O Mito da Obediência

Como faço para a criança obedecer? Você, provavelmente, já deve ter se deparado com este tipo de questionamento. Mas será que a criança precisa mesmo ser obediente? Neste artigo vamos conversar mais a fundo sobre a obediência.
Imagem de uma criança tapando a sua própria boca

Se você escolheu educar com respeito e está vivendo a Educação Positiva, uma hora ou outra será questionado sobre  a obediência.

Mas vamos entender, o que, de fato, é obediência?

Segundo o dicionário, obediência é o cumprimento da vontade alheia. Submissão.

Partindo deste princípio, entendemos que quando se espera obediência de uma criança, a estamos colocando em um lugar de submissão. A criança é submissa ao adulto e deve cumprir sua vontade sem espaço para o diálogo. Sem questionar.

Mas não parece contraditório que esperemos obediência das crianças e, ao mesmo tempo, queiramos que nossos filhos sejam adultos responsáveis, capazes de dialogar?

Como esperar adultos com poder de decisão se não damos espaço para que enquanto crianças eles possam desenvolver essa habilidade? Ao contrário, os podamos, com o “manda quem pode, obedece quem tem juízo” em vez de ensinarmos que o respeito é mútuo. 

Mulher com semblante bravo, apontando o dedo.

Quer dizer então que a criança poderá fazer aquilo que bem entender?

O pensamento polarizado 8 e 80 – se não é autoritário e exige obediência, então é permissivo – também é parte da educação tradicional. Não exigir obediência não significa o mesmo que permissividade (falamos mais a fundo sobre este tema no post “Educação Positiva e Permissividade”, leia AQUI), significa abrir espaço para que a criança se sinta vista.

Veja, a Educação Positiva propõe que saiamos de um local de abuso de poder – do maior para o menor – e passemos a adotar uma postura de respeito mútuo.

No respeito mútuo, o adulto se respeita e respeita a sua criança, tratando-a como um ser humano de igual valor e dignidade.

Criança conversando com sua mãe

Assim, a figura do cuidador é exemplo digno de ser imitado, reconhecendo seus próprios limites e os limites da sua criança. Sendo margem para que ela possa aprender com segurança.

A criança aprende através da imitação, portanto, o respeito não é ensinado através do medo, de punição ou chantagens. Ele é modelado.

O diálogo é a chave!

Enquanto na obediência existe uma ditadura: “enquanto você viver nessa casa, você tem que me obedecer!”, no respeito nós respeitamos as leis, dialogamos, debatemos. É mútuo.

Compreendemos, então, que a obediência não é necessária para educar. Já que ela vem de uma hierarquia de abuso de poder, e tem base no medo, gerando seres humanos submissos.

Nossa sociedade, pautada em hierarquia de poder, é patriarcal – onde impera o abuso do poder do maior sobre menor –  e mantemos isso com o ADULTOCENTRISMO – OU ADULTISMOS, ensinando desde recém-nascidos a se submeterem aos adultos.

Crianças não têm voz, são invisibilizadas. E se responderem com ira, vira repressão.

Toda esta repressão enquanto crianças traz reflexos profundos na vida adulta. 

Imagem de uma mulher pensativa

Os reflexos da obediência na vida adulta

O que acontece na infância não fica na infância.

As duas necessidades básicas universais de todo ser humano ao nascer são o Apego Seguro e a Autenticidade. O Apego Seguro (John Bowlby) enfatiza a importância de um vínculo seguro entre a criança e seu cuidador primário. Já a autenticidade diz respeito ao seu próprio EU, a sua identidade.

Quando as crianças se sentem acolhidas e possuem um ambiente seguro para se expressar, elas crescem conectadas com sua autenticidade.

Em estudo publicado, o psicólogo, Dr. Ross Buck, nos mostra que uma criança cujos pais castigam ou inibem a manifestação das emoções estará condicionada a responder da mesma forma a emoções semelhantes no futuro.

Estudo publicado, Dr. Ross Buck

Isso significa que, quando adulta, ela seguirá reprimindo essas emoções e não saberá lidar de forma eficaz com esses sentimentos.

A obediência muitas vezes reprime essas emoções. E, para manter o Apego Seguro, essencial para sua sobrevivência, esta criança abre mão da sua autenticidade.

Sendo assim, quando adulta, por medo de perder o amor, de não ser aceita, essa criança silenciada e obediente se conformará com quaisquer exigências. Certas ou não.

Para sobreviver nos submetemos. O que nos desconecta profundamente de nossa natureza humana.

Nossa professora da pós-graduação, Isabelle Filliozat, sabiamente diz: “reduzidas à obediência, essas crianças serão adultos que não saberão fazer-se perguntas, porque teriam lhes dado sempre a resposta, sem lhe dar tempo e permissão para explorar e sentir a si mesmos”.

Imagem de Isabelle Filliozat

Repressão emocional – Imensa fonte de angústia instaurada em todos nós.

Na vida adulta, vivemos em conflito, na constante ambivalência entre o medo de não sermos aceitos e a vontade que é proibida de tomar decisões autônomas face às alternativas possíveis.

Frutos da obediência, crescemos também sem autorresponsabilidade. Uma vez que, silenciados, desde a mais tenra infância tivemos alguém para nos dizer o que fazer, independente se certo ou errado.

Não questione, obedeça.

Essa obediência sustenta a lógica da submissão. E construímos assim a linguagem relacional perfeita para uma estrutura de dominação patriarcal. Quando ousamos desobedecer essa estrutura, somos questionados, e o RESPEITO?

Nossa geração confunde os conceitos

É comum confundir obediência com respeito. Até porque, vindos da educação tradicional, foi essa a linguagem relacional que aprendemos.

Mudar o que está na estrutura social é penoso porém necessário. Assim, o respeito deixará de ser esperado apenas do menor para o maior e começará a ser construído mutuamente.

Submeter-se é cortar o poder pessoal.

Mulher correndo livre em uma estrada

E questionar hierarquias de poder por si só, já é desobedecer.

Portanto, se você está aqui, você está no caminho de refletir e ter consciência do que sente.

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