Criança que grita, briga, morde? O que a Educação Positiva diz sobre a agressividade?

Vamos falar sobre um tema que ainda é tabu. A agressividade. Criança batendo no coleguinha, mordendo na escola, que constantemente tem explosões emocionais. Como lidar com esta agressividade? O que nós, como pais e educadores, podemos fazer?
Imagem das mãos de duas crianças disputando um brinquedo

Geralmente, o ímpeto de um adulto ao ver uma criança agindo com agressividade é agir com agressividade também. Quem nunca viveu ou ouviu um adulto gritando para “ensinar a criança a não gritar“, ou ainda, batendo para “ensinar a criança a não bater“?

Claramente, este não é o caminho. E, para entender a fundo, não apenas o que fazer, mas por que fazer, precisamos compreender primeiro o que é a agressividade.

Desvendando a Agressividade

A agressividade funcional é natural, esperada e saudável para todo ser humano. Ela, em si, não é um problema e também não é sinônimo de violência. É ela que nos permite dizer NÃO e sustentar nossos limites.

A agressividade funcional é nossa força vital. É a mesma força que faz uma semente brotar, uma borboleta nascer. É a força que nos move e nos defende.

E isso nos leva a um segundo ponto:

Todo comportamento é comunicação

Quando uma criança age com agressividade ela está querendo comunicar algo.

Veja, não existe bater, morder, brigar do nada. Então, para além do comportamento, nosso exercício é olhar para o ambiente e contexto. Vamos pensar na seguinte cena:

Uma criança pequena que mordeu ou bateu em outra criança em sala de aula: O que estava acontecendo no momento anterior? Uma disputa por brinquedo? O sentimento de que ela teve o seu espaço invadido?

Duas crianças brincando no chão. Uma tentando pegar o brinquedo da outra


A criança em seus primeiros anos de vida ainda não sabe comunicar com palavras sua frustração. “Por favor, me devolva esse brinquedo, eu estava brincando antes“.

Cabe ao adulto observar, intervir e ensinar habilidade.

Castigo e punição não ensinam habilidade socioemocional

Se, ao observar uma criança agindo com agressividade, o adulto briga e castiga, qual é a habilidade que ele está ensinando? Esta criança, em uma próxima vez, saberá a forma correta de agir?

Em estudo publicado, o psicólogo Dr. Ross Buck nos mostra que uma criança cujos pais castigam ou inibem a manifestação das emoções estará condicionada a responder da mesma forma a emoções semelhantes no futuro.

Imagem de artigo publicado pelo psicólogo Dr. Ross Buck

O grande desafio aqui é ampliarmos nosso olhar para ver além do comportamento e, em vez de reprimir emoções, aprender a acolher o sentimento e direcionar o comportamento, mostrando para esta criança como ela pode comunicar seus limites de uma forma respeitosa.

Ensinar sobre respeito é também ser exemplo

As crianças aprendem muito por imitação, ao modelar o comportamento do adulto. Ou seja, para que elas aprendam sobre respeito, é necessário que este adulto se respeite e a respeite como um ser humano de igual valor e dignidade.

Isso significa que o adulto precisa ser referência de respeito na relação. A criança muito absorve ao observar como o adulto lida com desafios, frustrações e emoções.

Uma mãe abraçando seu filho no colo


Se, diante de uma explosão emocional da criança, o adulto age com calma e busca compreender o que está por trás do comportamento, ele ensina que conflitos podem ser resolvidos de forma respeitosa e empática. Por outro lado, se o adulto responde com gritos, punições ou até mesmo violência, a mensagem transmitida será que o respeito é algo condicional e que a agressividade é a resposta para problemas.

É importante entender também que ensinar respeito não é sobre exigir obediência (falamos mais sobre obediência, AQUI) ou submissão, mas sobre criar um ambiente onde a criança se sinta segura para expressar suas emoções e aprender a comunicá-las de maneiras saudáveis.

Quando o adulto modela paciência e acolhimento, ele mostra à criança como navegar pelas próprias emoções sem negar ou reprimir seus sentimentos.

Os impactos de suprimir emoções

Reprimir as emoções pode até parecer uma solução rápida. Uma criança que para de gritar ou bater depois de ser castigada ou ignorada dá a falsa impressão de que o problema foi resolvido. No entanto, o que acontece quando apenas suprimimos emoções em vez de ensinar como lidar com elas?

Emoções reprimidas não desaparecem, elas apenas encontram outras formas de se manifestar.
A agressividade pode então se tornar disfuncional, voltada para fora (explosões) ou para dentro.

Uma mulher, reflexiva, sozinha.


A Indefesa Aprendida

Crianças que crescem em ambientes onde suas emoções são constantemente invalidadas ou suprimidas podem desenvolver o que chamamos de indefesa aprendida. Isso acontece quando elas internalizam a ideia de que suas ações ou sentimentos não são importantes.

O resultado? Com o tempo, essas crianças tornam-se adultos que, a todo custo, evitam conflitos, têm dificuldade em se posicionar e até mesmo em reconhecer suas próprias necessidades. “Tanto faz” ou “tá tudo bem” tornam-se respostas automáticas para evitar confrontos, mesmo quando há desconforto ou insatisfação interna.

Agressividade Disfuncional: O outro lado da moeda

Por outro lado, quando a agressividade funcional não é trabalhada, ela pode se transformar em agressividade disfuncional. Isso ocorre porque, sem um canal saudável para expressar frustração ou defender limites, a energia acumulada pode transbordar de maneira explosiva.

Desta forma, crianças que não aprendem a lidar com suas emoções de forma saudável tendem a reproduzir comportamentos de violência em diferentes contextos sociais.

Qual é a solução?

Uma professora com seus 3 alunos, brincando

Acolher e validar o sentimento, corregular e ensinar habilidades socioemocionais.

Isso significa ajudar as crianças a nomearem e entenderem o que sentem, além de guiá-las para formas construtivas de lidar com essas emoções. Em vez de dizer “Bater é feio!“, podemos dizer: “Pare. Eu entendo que você está frustrado, mas podemos usar as palavras para resolver isso.

Mostrar para a criança que suas emoções são válidas e que há formas saudáveis de lidar com elas não é só uma questão de respeito, mas também um investimento no seu desenvolvimento integral.

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