Criança não obedece, faz birra… O que fazer?

Diante de comportamentos desafiadores, como a birra, como pais e profissionais podem agir?
Desenho mãe e crança chateada

Criança não obedece. Não entende o não. Faz birra.

Em paralelo, diante de comportamentos desafiadores, muitos pais se perguntam: Por quê? O que eu fiz de errado? Será que fui permissivo demais?

Existem muitas camadas por trás dessas perguntas, mas existe também um caminho mais claro quando olhamos para o comportamento da criança com mais empatia e ciência. E é sobre essas camadas e esse caminho que vamos conversar neste artigo.


“Desobediência”, birra: é mau comportamento ou imaturidade cerebral?


É necessário entender que todo comportamento está comunicando algo.

Crianças pequenas ainda não têm o cérebro completamente desenvolvido, especialmente o córtex pré-frontal que é responsável por controlar impulsos, organizar pensamentos, regular emoções e agir com lógica.

O cérebro da criança ainda não é racional. Não é que ela não obedece, ela não maturidade cerebral para processar o não.


Por isso, quando uma criança grita, chora ou “faz birra”, muitas vezes o que está acontecendo não é desobediência ou mau comportamento, embora desafiador, é apenas imaturidade cerebral.

Por não saber ainda como organizar e verbalizar de forma lógica seus sentimentos, ao sofrer uma grande frustração, essa criança sofre uma desregulação emocional e depende de um adulto segurança regulado para ajudá-la a atravessar aqueles sentimentos e voltar para a sua calma.



(Temos AQUI um artigo completo falando sobre a birra, clique para ler mais.)

Entendendo também essa imaturidade cerebral, precisamos nos questionar:

Será que, de fato, esta criança não está nos ouvindo ou estamos exigindo dela decisões racionais em cima de pensamentos abstratos, quando biologicamente seu cérebro ainda é basicamente primitivo e emocional e seu pensamento, concreto e literal?




E é por isso que muitas vezes a criança não “obedece” quando você diz não.


Não processar o seu “não”, não é desobediência.

Veja, a negação exige que o cérebro construa primeiramente uma imagem, depois ele interpreta a negação! Como a criança não tem o neocórtex ainda formado, ela não consegue fazer isso.

Na prática, pense o seguinte:

Ao ler a frase “Não pense em um balão amarelo!” qual é a primeira coisa na qual você pensa?

Em um balão amarelo.

Ou seja, primeiro o seu cérebro forma a imagem, depois racionaliza a negação.
E essa é uma estrutura complexa para um cérebro imaturo.

Muitas vezes o que a sociedade entende como "a criança que não obedece" é na verdade imaturidade. A criança pequena ainda não consegue processar a palavra não.


A falsa ideia da desobediência e da criança “bem-comportada


Muitas famílias carregam, consciente ou inconscientemente, a ideia de que uma “criança boa” é aquela que obedece sem questionar, não impõe sua vontade e segue as ordens dos adultos sem nenhuma resistência.

Mas essa expectativa está mais ligada ao desejo de controle do que à construção de uma relação saudável.

Não se controla um comportamento. Entende-se o que aquele comportamento quer transmitir, buscando sua causa, seu foco principal e encontrando a necessidade real dessa criança.

Uma criança que questiona, expressa frustrações e coloca seus desejos para fora está mostrando que se sente segura o suficiente para ser quem é.

Vale a pena pensar: Queremos crianças obedientes ou crianças conscientes?

A conexão entre cuidadores e crianças muda tudo.


O objetivo da Educação Positiva não é criar filhos passivos, mas indivíduos íntegros, críticos e colaborativos.

Educar com respeito é, antes de tudo, sustentar relações onde as necessidades do adulto e da criança são levadas em conta. Sem hierarquia emocional, sem silenciamento, e sem medo.


Mas e a permissividade?


Permissividade é diferente de acolhimento. 
Isso significa que validar uma emoção e acolher a sua criança não quer dizer que você está sendo permissivo.

A permissividade acontece quando faltam limites claros, previsíveis e coerentes.

É quando, por medo do choro, da frustração ou até por insegurança, o adulto deixa de assumir seu papel como referência e a criança passa a guiar o barco sozinha, o que é angustiante (e impossível) para ela.

Um adulto que educa com responsabilidade e respeito, oferece limites consistentes e acolhe os sentimentos que surgem a partir desses limites.

Ele diz “não” com empatia, sustenta o desconforto, mas não abandona a criança no meio dele.

É esse equilíbrio que o torna um adulto segurança, digno de ser imitado, que não impõe pelo medo, mas pelo exemplo e confiança.

A escuta nasce da conexão


Conexão como base da cooperação


Se você sente que sua criança não te escuta, talvez a pergunta precise mudar:
Será que ela se sente escutada por você?

Crianças aprendem através do exemplo. Quando somos respeitosos, abrimos espaço para a cooperação, mesmo que ela não aconteça imediatamente.

Antes de corrigir, conecte.
Antes de ensinar, escute.
Porque só há aprendizagem onde há vínculo.

Trabalhar na sua própria regulação emocional, te ajudará a corregular sua criança.


Na prática:

  • Mantenha a calma e regule sua própria emoção primeiro.
  • Ajude-a a nomear e verbalizar o que ela sente: “Você está frustrado porque queria mais tempo para brincar, né?
  • Valide a emoção, ainda que sustentando o limite: “Eu entendo. E agora é hora de guardar os brinquedos.
  • Além disso, não a rotule.


Educar não é sobre ter respostas prontas. É sobre presença, consciência e disposição para aprender junto.
E este é um convite constante a olhar para nossas próprias atitudes e para o nosso amadurecimento.

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