Você já sabe que quer educar com mais respeito. Já entendeu também que repetir velhos padrões de gritos, ameaças e castigos não é o caminho. Mas por onde começar a viver a Educação Positiva?
À princípio, viver a Educação Positiva pode parecer um caminho desafiador, afinal, não tivemos referências na nossa infância dessa forma de educar. Crescemos com uma educação tradicional que muitas vezes calava em vez de escutar, preferia o castigo ao diálogo e colocava o controle acima da conexão.
No entanto, com o tempo começamos a entender que a educação tradicional não era o melhor caminho. Que ela deixava marcas profundas em crianças silenciadas que hoje, adultos, não sabem lidar com suas próprias emoções.
Sendo assim, quebrar esse ciclo pode parecer difícil, mas a verdade é que viver a Educação Positiva começa com algo muito simples, o desejo de fazer diferente.
O primeiro passo da Educação Positiva: olhar para si
É importante entender que a Educação Positiva não traz um conjunto de ferramentas prontas ou uma fórmula mágica que visa controlar o comportamento das crianças. Ao contrário, ela é sobre criar relações mais empáticas e amorosas, baseadas no respeito mútuo.
E essa relação começa com o adulto.
Antes de buscar técnicas, o convite aqui é olhar para dentro e entender: Como você se sente quando sua criança chora? Quando ela diz não? Quando ela tem um episódio de birra em público.
O que essas reações despertam em você? Como o seu corpo reage?
Essas respostas dizem muito mais sobre você mesmo do que sobre a criança.
Por isso dizemos que começar na Educação Positiva é, primeiro, um caminho de autoeducação e autocura.
É reconhecer que suas respostas automáticas, muitas vezes, vêm de memórias emocionais, de como você foi tratado na infância. E, mais do que isso, é olhar com compaixão para tudo o que você viveu para que possa curar e não repetir.
O reencontro com nossa criança ferida: Entendendo nossos gatilhos emocionais
Comportamentos desafiadores da sua criança podem funcionar como gatilhos emocionais.
(Falamos mais sobre esse assunto no artigo “O choro da criança irrita? Entenda o que é gatilho emocional”. Clique para ler)
Determinados comportamentos da criança despertam em você sentimentos e reações, de acordo com suas próprias vivências e traumas da infância. Ou seja, quando você grita, ameaça ou se cala com raiva, mesmo sabendo que não quer agir assim, não é falta de amor é um reflexo emocional.
Segundo o psiquiatra Bruce Perry, “o que está por trás da reatividade emocional intensa geralmente é uma memória implícita, não processada”.
Essas memórias ficam registradas no corpo e são ativadas por situações que remetem, ainda que inconscientemente, a vivências antigas.
É por isso que o choro pode parecer insuportável, que uma birra te tira do sério. Ou que, mesmo desejando agir com presença, você se afasta emocionalmente.
Não é sobre o que a criança está fazendo.
É sobre o que isso ativa em você.
E isso não é culpa.
É informação.
Quando compreendemos que esses gatilhos são convites à consciência e não sentenças de repetição, podemos mudar de resposta.
Entender para acolher: Neurodesenvolvimento e comportamento infantil
Começar a estudar sobre o neurodesenvolvimento infantil te permite entender que o comportamento da criança não é um desafio pessoal, mas comunicação.
E essa é uma das maiores chaves para mudar nossa forma de educar.
A criança ainda está aprendendo a regular emoções, a lidar com frustrações. Ela está em desenvolvimento.
Isso significa que:
- A birra é desregulação emocional.
- O choro é um pedido de acolhimento.
- A inquietação é uma necessidade física.
- O comportamento desafiador é comunicação.
Quando compreendemos o neurodesenvolvimento, percebemos que a criança não está sendo difícil, ela está tendo dificuldades. E isso muda tudo.
(Leia mais sobre o comportamento infantil, no artigo “Criança não obedece, faz birra… O que fazer?”)
A prática diária da Educação Positiva: Repetir para praticar
Viver a Educação Positiva no dia a dia significa substituir a lógica da punição por uma abordagem baseada em orientação, vínculo e respeito mútuo.
E isso inclui:
- Ensinar o que SIM fazer: Em vez de focar apenas na correção, o adulto orienta a criança com empatia sobre o que fazer.
- Ajudar a criança a verbalizar: Compreender que a criança ainda não consegue nomear o que sente. Por isso, o adulto pode mediar esse processo, ampliando o vocabulário emocional e favorecendo o desenvolvimento da autorregulação no futuro.
- Priorizar o vínculo: Um cérebro em estado de alerta não aprende. Isso significa que relações de confiança e segurança emocional são a base para que a criança aprenda e cresça com resiliência.
- Seja o adulto digno de ser imitado: A criança aprende mais pelo que vê do que pelo que ouve. Seja o adulto que se autorregula e resolve conflitos com respeito.
- Entender o comportamento: Todo comportamento é uma forma de comunicação. Seu olhar precisa ir além do comportamento e buscar compreender a necessidade por trás dele.
- Estabelecer e sustentar limites com empatia: A Educação Positiva não é permissiva. Ela reconhece a importância dos limites, desde que sejam claros, coerentes e colocados com empatia, entendendo que a criança poderá se frustrar, mas você estará presente para atravessar essa frustração com ela.
Essa mudança de postura fortalece a relação entre o adulto e a criança e favorece o desenvolvimento de competências socioemocionais fundamentais, como empatia, resiliência e autonomia.
O nós em ação
Educar com respeito é uma escolha pessoal, mas não é uma jornada solitária.
É nos vínculos com outras pessoas conscientes e dispostas que encontramos força para seguir. É no cotidiano, nos pequenos gestos, que a Educação Positiva se torna real.
No olhar que acolhe.
No “desculpa” dito de verdade.
Na escuta que antecede o julgamento.
Pais, mães, educadores, profissionais da infância, cada um de nós pode ser ponte. Pode ser abrigo. Pode ser transformação.
Porque quando um adulto muda a forma de se relacionar com a criança, ele não muda só o presente. Ele muda o futuro.