Educação Positiva tem resultados comprovados e embasamento científico? As dúvidas ao educar uma criança não são recentes, assim como os estudos que cercam o desenvolvimento infantil também não.
Mas embora a Escola da Educação Positiva tenha sido estruturada no Brasil em 2019, os estudos que fundamentam seus pilares – falamos mais a fundo sobre cada um dos 5 pilares da Educação Positiva AQUI – são muito mais antigos.
Embasamento Científico
Primeiramente, precisamos entender o que é a Educação Positiva.
A Educação Positiva é uma abordagem que traz o respeito mútuo, igual valor e dignidade como base da educação infantil. Mostrando a importância do acolhimento, de uma comunicação empática e priorizando a qualidade da relação.
Ou seja, em vez de métodos punitivos, ela se concentra no acolhimento, no ensinamento de habilidades socioemocionais e no fortalecimento de vínculo afetivo. Tudo isso fundamentado em pilares que são amplamente estudados e comprovados por pesquisas robustas das áreas de psicologia, neurociência e ciências sociais.
Essas pesquisas demonstram como criar ambientes de cuidado, respeito mútuo e segurança emocional é essencial para o desenvolvimento saudável das crianças e, consequentemente, para a formação de adultos mais resilientes.
A Teoria do Apego
Um dos pilares da Educação Positiva, a Teoria do Apego (John Bowlby, origem em 1958), mostra que criar um vínculo seguro entre a criança e seu cuidador principal é fundamental para um desenvolvimento emocional saudável.
Ou seja, as crianças que experimentam esse tipo de apego são mais propensas a desenvolver autoconfiança e habilidades sociais. Uma vez que, quando se sentem acolhidas e possuem um espaço seguro para SER, essas crianças crescem também mais conectadas com sua autenticidade.
Os Impactos do Estresse Tóxico
Gritos, punições, medo de errar e silenciamento. Frutos da educação tradicional.
Vamos entender mais profundamente sobre o estresse tóxico e a falsa sensação de que a criança pode aprender através do medo e da coação.
O estresse tóxico é resultado de experiências recorrentes adversas na infância. Como o crescimento em ambiente de violência ou negligência, sem um adulto cuidador que promova Apego Seguro.
A neurociência nos mostra que a criação de um ambiente emocionalmente seguro reduz os efeitos do estresse tóxico.
Assunto esse que a neurocientista Nadine Burke Harris, em seu livro Mal Profundo (2019), explora muito bem. Na sua obra, ela mostra como as experiências adversas na infância (ACE) afetam negativamente o desenvolvimento do cérebro, levando a problemas crônicos de saúde.
Outro importante estudo sobre a promoção de Apego Seguro vem de Gabor Maté, renomado médico, pesquisador e professor internacional da nossa pós-graduação, que explora a relação entre os traumas na infância e a saúde física e emocional a longo prazo.
Ele destaca que o estresse tóxico pode alterar o desenvolvimento cerebral, impactando profundamente a capacidade de regular emoções e enfrentar adversidades.
Outros estudos da neurociência, como os realizados por Bruce McEwen e Jack Shonkoff, apontam que a exposição prolongada ao estresse tóxico pode interferir nas conexões neurais no hipocampo, área fundamental para a memória e aprendizagem e no córtex pré-frontal, responsável pela autorregulação e tomada de decisões.
O resultado é que essa disfunção aumenta o risco de transtornos como ansiedade, depressão e doenças crônicas, como mostrou uma pesquisa conduzida pelo Harvard University Center on the Developing Child.
Todos esses estudos são apenas alguns de vários que reforçam como um ambiente acolhedor e seguro pode neutralizar esses efeitos, ajudando verdadeiramente a promover o desenvolvimento saudável da criança.
O Poder do Ambiente no Desenvolvimento
Talvez agora você esteja se perguntando: Mas será mesmo que o ambiente em que a criança vive e a maneira como seu cuidador principal age e responde às suas necessidades podem influenciar tão profundamente na maneira como ela se posiciona diante do mundo?
Vamos nos aprofundar um pouco mais.
Em 1997, Francis et al. realizou estudos com ratos geneticamente predispostos a sentirem mais medo. Nessa pesquisa, ele avaliou que quando esses ratos foram criados por mães ratas adotivas menos temerosas, os filhotes cresceram sem medo, mostrando o poder da criação, para além da genética.
Da mesma forma, estudos com bebês humanos de temperamento reativo, como os realizados por Dymphna Van den Boom (1994) mostram que quando a mãe aprende a gerenciar o estresse e responder melhor ao seu bebê, eles crescem com Apego Seguro, impactando em toda a sua vida.
Neurodesenvolvimento Infantil e o Estado de Alerta
Falando agora sobre neurodesenvolvimento, entendemos que o cérebro infantil em desenvolvimento é altamente plástico, moldado pelas experiências do ambiente onde a criança está inserida. Além disso, ele se desenvolve em alta velocidade.
Um cérebro que está em estado de alerta constante, entra no modo de luta ou fuga. Isso significa que durante este estado de alerta, as regiões do cérebro responsáveis pela sobrevivência são ativadas, levando a um aumento de cortisol e adrenalina no organismo.
Dessa forma, quando a criança está nesse estado de alerta contínuo, seu cérebro tem menos capacidade de acessar as áreas responsáveis pelo aprendizado, memória e regulação emocional. Já que ele está priorizando a sua sobrevivência.
Para aprender, as crianças precisam se sentir emocionalmente seguras.
Isso inclui ter uma figura cuidadora que proporcione segurança emocional. E, claro, um ambiente de respeito e acolhimento, bases propostas pela Educação Positiva.
Os Resultados de Uma Educação Pautada no Respeito e nas Relações
Crianças que crescem em ambientes que promovem o respeito e a empatia tendem a ser adultos mais resilientes e a lidar melhor com desafios. Desenvolvendo, assim, maior capacidade de superação ao longo da vida.
Estudos de longo prazo, como o realizado pela Harvard University Center on the Developing Child, reforçam essa ideia. Relações saudáveis e baseadas no respeito ajudam no desenvolvimento de habilidades socioemocionais que são levadas para a vida adulta.
Lembre-se: O que acontece na infância, não fica na infância.
Mudança de Paradigma
É natural que uma grande mudança de paradigma gere dúvidas.
Mas é importante saber que a Educação Positiva não só tem base científica, como está profundamente enraizada em evidências que comprovam seus benefícios para o desenvolvimento emocional e social das nossas crianças.
A Educação Positiva não nos traz um conjunto de ferramentas, mas sim o fortalecimento de vínculo e conexão.
Isso significa que é importante olhar para o conjunto da relação com nossas crianças para que possamos acolher, educar com respeito, ensinar habilidades e promover um ambiente seguro. Gerando, assim, inteligência emocional e contribuindo para a construção de uma sociedade mais empática e resiliente.
Educar é sobre se relacionar. E o respeito mútuo deve ser a base de qualquer relação saudável.