O choro da criança irrita? Entenda o que é gatilho emocional

Descubra por que o comportamento infantil ativa emoções intensas em adultos e como lidar com o gatilho emocional com base na Educação Positiva.
Mulher vendo no seu reflexo a sua criança interior.

O choro da criança te irrita? Se sua resposta foi sim, pode ser que ele seja um gatilho emocional para você.

Se você está aqui, é provável que em algum momento tenha se sentido desconfortável ou até irritado com o choro de uma criança. E não apenas o choro, mas os gritos, “birras” e demandas emocionais intensas.

Mas o que essa reação do seu corpo está querendo dizer?

Por que até mesmo adultos que desejam educar com respeito ainda se sentem ativados nesses momentos?

A resposta, no entanto, não é tão simples. A verdade é que o comportamento infantil pode acionar em nós algo muito mais profundo do que parece.


Quando a criança ativa memórias

Segundo o psiquiatra Bruce Perry, especialista em trauma infantil, “o que está por trás da reatividade emocional intensa geralmente é uma memória implícita, não processada” (The Boy Who Was Raised as a Dog, 2006).

Isso significa que, diante do choro de uma criança, não estamos apenas reagindo ao que está diante dos nossos olhos, mas sim àquilo que ainda ecoa dentro de nós.

Mulher vendo fotos de sua infância. Muitas vezes nossos gatilhos emocionais vêm da nossa infância. De dores que ainda não foram acolhidas.


Essas memórias, no entanto, não são acessadas de forma consciente, mas ficam registradas no corpo. E são ativadas quando o comportamento infantil, como o choro persistente, se conecta com vivências da infância do adulto.

É por isso que, às vezes, você reage de forma desproporcional ao choro ou à demanda de uma criança. Porque o que está sendo tocado ali é uma dor antiga que ainda não teve espaço para ser acolhida.


Sobrecarga emocional: quando o copo já está cheio

Antes mesmo da criança chorar, muitos adultos já estão emocionalmente sobrecarregados.

O acúmulo de tarefas, a cobrança por dar conta de tudo, a falta de tempo e a solidão silenciosa do cuidar tornam difícil sustentar o vínculo.

Quando o adulto está com o “copo cheio”, qualquer pequena gota, seja ela um pedido, uma resistência, uma emoção intensa da criança, pode fazer tudo transbordar.

Essa sobrecarga não é fraqueza. É um sinal legítimo de que algo em você precisa de cuidado.

(Leia mais sobre “Culpa, solidão e sobrecarga materna” AQUI)

Olhar para dentro, para o que sentimos, nos permite entender o que é um gatilho emocional para nós.


A criança real encontra a criança ferida

Muitos adultos de hoje foram ensinados a reprimir suas emoções quando crianças.

Cresceram ouvindo que precisavam “engolir o choro”, “obedecer”, “agradar”, “não dar trabalho”.
Foram crianças silenciadas, que tiveram suas necessidades emocionais ignoradas.

E é por isso que, quando se deparam com a vulnerabilidade de uma criança real, que chora, grita e sente, esse gatilho emocional ativa a dor da criança ferida que estava adormecida.

Como nos lembra Gabor Maté: “O trauma não é o que acontece com você, mas o que acontece dentro de você como resultado do que aconteceu.”

Ou seja, a criança real ativa a criança que ainda mora dentro de cada um de nós.


O gatilho emocional não é culpa da criança

A Educação Positiva nos ajuda a entender que o comportamento da criança não é provocação, mas uma expressão da sua necessidade. É importante lembrar: Comportamento é comunicação.

Ainda assim, mesmo adultos conscientes muitas vezes reagem no automático, e depois se perguntam: “por que eu agi assim?”.

Como Dr. Dan Siegel explica, o cérebro adulto pode ativar circuitos de memória emocional ao se sentir ameaçado, mesmo que a “ameaça” seja apenas uma criança expressando frustração.

Bessel van der Kolk complementa: O trauma molda o corpo e o cérebro, nos deixando em estado constante de alerta, o que prejudica a conexão emocional com quem está diante de nós.

Ou seja, o que irrita na criança não tem a ver com ela, tem a ver conosco.


Identificando um gatilho emocional

Veja, essas reações automáticas são ativadas por nossos gatilhos emocionais. 

E começar a identificar esses gatilhos é o primeiro passo para interromper o ciclo de reatividade.

Desta forma, é importante observar o que acontece no seu corpo. Para isso, pergunte-se:

– O que estou sentindo agora?
– Isso que me irrita na criança tem algo a ver comigo?
– Que dor real está emergindo em mim?

Mãe abraçando o seu filho.
Cura do gatilho emocional e convite ao vínculo.


Trabalhando a autocura

Educar com consciência é, antes de tudo, um processo de autoeducação. Isso envolve olhar para nossas feridas, reconhecer nossas limitações e buscar recursos para lidar com elas com mais presença e compaixão.

Como afirma Bessel van der Kolk, “o trauma afeta profundamente a forma como nos relacionamos com os outros, incluindo nossos filhos.O que eu não curo, eu repito. O que eu compreendo, eu transformo.

A responsabilidade é nossa.
Enquanto adultos, podemos escolher não paralisar na culpa, mas nos responsabilizar pela mudança.


Um convite ao vínculo

O vínculo se constrói quando nos dispomos a entender o que é um gatilho eomocional para nós e a partir daí trabalharmos também na nossa autocura.

Romper o ciclo de reatividade é possível!

E, quando entendemos isso, o choro da criança deixa de ser um incômodo e passa a ser um pedido.

Um pedido por presença. Por escuta. Por segurança emocional.

É neste ponto, quando conseguimos sustentar esse pedido com responsabilidade e empatia, que a relação deixa de ser um campo de batalha e se torna um caminho de cura, tanto para a criança, como para o adulto.

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