Recentemente vimos uma explosão nas redes sociais colocando a permissividade e a Educação Positiva nos mesmos patamares. Mas você sabe o que é realmente a permissividade e a Educação Positiva?
Neste artigo você irá entender mais a fundo esses conceitos, as diferenças entre acolhimento e permissividade e como promover margens seguras para a criança, pautadas no respeito mútuo e qualidade da relação, que é o que a Educação Positiva defende. (Você pode ler mais sobre o que é a Educação Positiva e seus pilares AQUI).
Afinal, o que é permissividade?
A permissividade, tal qual o autoritarismo, faz parte da educação tradicional, como polos opostos de uma mesma esfera.
Para entender melhor, pensemos nas motivações para ambos. Sempre centradas no adulto.
Quando falamos na permissividade, então, o que isso significa?
O adulto que deveria ser margem e segurança para a sua criança, deixa que ela faça qualquer coisa, pois está centrado em si mesmo.
Dessa forma, ele cede aos desejos da criança, não para beneficiá-la, mas sim para evitar o desconforto ou esforço pessoal.
Esta é uma forma do adulto preservar seus próprios interesses, evitando lidar com a frustração, seja pela sua falta de disponibilidade para esta criança, por medo de desagradar ou por não saber como corregulá-la.
O que leva a um distanciamento emocional e à falta de segurança para a criança, uma vez que ela se sente não vista, não ouvida e não encontra margens saudáveis para seu desenvolvimento.
Permissividade x Autoritarismo
No autoritarismo, a educação se baseia no controle e obediência. Onde a criança deve seguir cegamente às regras impostas pelo adulto, sem espaço para diálogo ou escolha.
Há um abuso de hierarquia de poder, onde o adulto é quem manda e a criança é silenciada, tendo seus sentimentos invalidados.
Na permissividade, existe a negligência acerca das demandas físicas e emocionais desta criança. O adulto evita assumir a responsabilidade de guiar e regular.
Ambas as abordagens são perigosas e trazem danos.
Indo mais a fundo: O que dizem as pesquisas?
Autoritarismo e permissividade fazem parte dos chamados ACEs, em português, Experiências Adversas na Infância, que são eventos estressantes ou traumáticos que ocorrem na infância e que têm efeitos profundos na saúde e bem-estar ao longo da vida.
Dentro do abuso físico e verbal, encontramos o autoritarismo. Na negligência física e emocional, a permissividade.
Pesquisas já comprovam os impactos do estresse tóxico, fruto dessas experiências adversas na infância, no neurodesenvolvimento infantil, impactando de forma negativa na capacidade do cérebro de acessar áreas relacionadas à aprendizagem, memória e regulação. (Leia mais sobre esses e outros estudos AQUI).
Um novo estudo publicado: Experiências Adversas na Infância (ACEs) e Condições de Saúde e Comportamentos de Risco Entre Estudantes do Ensino Médio – Pesquisa de Comportamento de Risco Juvenil, Estados Unidos, 2023, traz dados importantes após um levantamento nacionalmente representativo e auto-relatado sobre ACEs entre estudantes do ensino médio nos EUA.
Neste estudo fica claro que:
- As ACEs (Experiências Adversas na Infância) são ainda mais comuns do que se pensava.
- Entre os estudantes do ensino médio, 3 em cada 4 experimentaram pelo menos 1 ACE; E 1 em cada 5 enfrentou 4 ou mais ACEs.
- Cerca de 90% dos comportamentos suicidas, 84,3% do uso indevido de opioides prescritos e 65,6% dos sentimentos persistentes de tristeza ou desesperança foram associados a pelo menos 1 ACE.
- Os estudantes com 4 ou mais ACEs tiveram uma prevalência significativamente maior de 15 das 16 condições de saúde e comportamentos de risco analisados.
Há evidências o suficiente que nos mostram a importância de revermos a maneira de educar e rompermos o ciclo da educação tradicional, trazendo uma educação com mais respeito e empatia.
Mas por que vemos tanta confusão entre Educação Positiva e permissividade?
Veja, viemos de uma educação tradicional que não nos deu referência de como educar com respeito, sem abuso de hierarquia de poder.
Sem esta referência, ao se deparar com uma nova abordagem que propõe acolhimento é natural que não se saiba o que fazer. Afinal, como estabelecer essas margens seguras, validando sentimentos (os nossos e da criança) e proporcionando acolhimento e regulação emocional, se na nossa infância não os obtivemos?
Naturalmente confunde-se obediência com respeito. E acolhimento com permissividade.
Mas então, qual é esse limite?
Como saber se estou sendo respeitosa ou permissiva?
Já entendemos até aqui o que é a permissividade e de onde ela vem. Agora vamos falar de acolhimento e respeito.
Quando falamos de respeito, entende-se que ele é mútuo e deve ser modelado. Isso significa que o respeito também deve partir do adulto para com a criança. O adulto se respeita e respeita a criança, de forma que ensina a criança a também respeitar a si e ao próximo.
Mas como fazer isso?
- Entendendo os seus próprios limites
- Abrindo espaço para um diálogo saudável
- Validando as emoções da sua criança e suas próprias emoções
Para ilustrar, vamos usar um exemplo:
Imagine que, após uma negativa, a criança sente uma grande frustração. O adulto, em vez de silenciar, reprimir ou castigar, demonstra para esta criança que entende o seu sentimento e se mostra emocionalmente disponível para ajudá-la a atravessar aquela emoção. Falamos sobre este tópico neste artigo (CLIQUE PARA LER) sobre a birra.
“Eu entendo que você está triste. Tudo bem chorar, eu estou aqui com você.”
Mas por que na prática parece tão difícil?
Para que o acolhimento aconteça, o adulto precisa conseguir se conectar emocionalmente com a sua criança, para que possa entender o seu sentir.
No entanto, acolhimento e corregulação exigem que antes o adulto esteja conectado consigo mesmo, acolhendo suas próprias emoções.
Por isso, não existe Educação Positiva sem autoeducação, autoacolhimento, autocompaixão e autocura.
Para que o adulto consiga estabelecer este vínculo com a criança, acolhendo, promovendo corregulação e sendo fonte de margens seguras, ele necessariamente terá de olhar para a sua própria criança ferida e para seu próprio sentir. Identificando seus gatilhos para que possa promover aquilo que ele próprio não teve.